O que a Floresta Amazônica e o Vale do Silício têm em comum?

Escrito por Victor Augusto Moreira
Pesquisador do Centro de Economia Verde da Fundação Certi 

Essa pergunta pode parecer um pouco estranha, mas estes ambientes têm mais em comum do que você imagina! A Amazônia é o maior ecossistema de floresta tropical contínuo do mundo, um gigante que existe a milhões de anos. O aprendizado ao estudar a resiliência e a capacidade adaptativa da Amazônia e espelhar seus princípios de funcionamento em ambientes criativos de inovação traz lições poderosas que permitem fortalecer as relações dentro de novos ecossistemas de negócios que estão surgindo ao redor do mundo.

Mas afinal, o que define um ecossistema?

Na biologia, um ecossistema é conceituado por “um sistema dinâmico formado por componentes bióticos (animais, plantas, fungos) e componentes abióticos (solo, ar, água e minerais) que interagem entre si realizando trocas de energia e de materiais”.

A terminologia “ecossistema” foi emprestada para a abordagem de ambientes dinâmicos de negócios, assim como o Ecossistema de Venture Capital do Vale do Silício ou para o Ecossistema de Inovação de Florianópolis. Desta forma, esta inspiração no conceito da biologia vem para ajudar a compreender e fortalecer a dinâmica e fluxo dos negócios nestes ambientes criativos, de modo a contribuir na resiliência destes ambientes inovadores.

O investidor Victor Hwang¹, entusiasta do modelo do Vale do Silício, se inspira na estrutura dos ecossistemas de Florestas Tropicais e descreve algumas características que o Vale do Silício compartilha com estes ecossistemas naturais, tornando-o mais forte e robusto, e que podem inspirar a construção de novos ecossistemas de negócios e inovação pelo mundo.

A principal provocação trazida por Hwang é a comparação entre dois ambientes bem distintos: uma Floresta Tropical (como a Amazônia) e uma Monocultura (como uma plantação de milho).

Enquanto na monocultura se tem o foco de controle, usando a precisão e acurácia para ganhar produtividade no crescimento de apenas uma espécie (o milho), a floresta tropical é aberta ao novo, diversa, criando um ambiente para o surgimento de mudanças dentro daquele ambiente.

No plantio de milho, toda a planta que brotar (e não for milho) é removida do ambiente para propiciar o crescimento somente da espécie alvo. Já na floresta tropical se abre espaço para a oportunidade de brotarem novas espécies, onde a diversidade de organismos e suas relações no ambiente (e com o ambiente) ampliam de modo que este ecossistema possa se autorregular, tornando-o mais resiliente ao longo do tempo. Nesta analogia, a Floresta Tropical está aberta a possibilidade de surgirem novas espécies no ambiente (que seriam as “ervas daninhas” dentro de um plantio de milho), tornando-o mais dinâmico e diverso, aberto a novas ideias, novas oportunidades, novos negócios.

No Brasil, estes ambientes de inovação apresentam grande importância na alavancagem, fortalecimento e sobrevivência de novas startups (as novas espécies) para conquistarem o mercado. Embora no Brasil os ecossistemas de inovação estejam um pouco pulverizados (com maior concentração deles no sul e sudeste) e com alguns desafios de integração, estão ganhando destaque no cenário de atração de investimentos e no potencial de geração de tecnologias de ponta no cenário mundial.

A cidade de Florianópolis (SC), por exemplo, comporta um dos ecossistemas de negócios mais importantes do país no que se refere ao desenvolvimento de tecnologia de ponta (É! Floripa não tem só praia!). Uma das peças chave deste ecossistema são as estratégias de fortalecimento e impulsionamento de startups através de iniciativas inovadoras, que envolvem programas de pré-incubação, incubação e aceleração, e ambientes de inovação como centros de inovação, parques tecnológicos, incubadoras e espaços de coworking, tornando Florianópolis a 2ª cidade brasileira com maior densidade de Startups do Brasil².

Em um ambiente de inovação cultive as ervas daninhas!

O papel de impulsionar novos empreendimentos é essencial para fortalecer um ecossistema de inovação, pois esta é a etapa inicial que dá oportunidade a novas ideias que podem desencadear a inovação disruptiva e exponencial. Essa história remete a criação de algumas empresas, como Google e Facebook (no Vale do Silício), e a Resultados Digitais e a Neoway (no ecossistema de inovação de Florianópolis), as “ervas daninhas” cultivadas dentro de ecossistemas de inovação, que mudaram a lógica de fazer negócios e crescem exponencialmente a cada ano.

É fato que nem toda erva daninha se tornará uma estrondosa frutífera neste ecossistema, mas se não houver abertura para a oportunidade do novo, dificilmente o ambiente se tornará resiliente para alcançar bons longos anos de sobrevivência.

Dê espaço para testar o novo, assim como no Vale do Silício, em Florianópolis ou na Amazônia!

¹The Rainforest: The Secret to Building the Next Silicon Valley. Victor W. Hwang e Greg Horowitt. 2016.

² Fonte: Estadão, 2017. <https://link.estadao.com.br/blogs/felipe-matos/qual-a-regiao-campea-em-densidade-de-startups-no-brasil-voce-vai-se-surpreender/>