Especialistas em tecnologia dão dicas para quem quer empreender no setor

Empreendedores e especialistas compartilham habilidades que desenvolveram durante suas jornadas no mercado

Texto por Gabriela Prestes Funke | Equipe Dialetto

 

O empreendedorismo está cada vez mais presente no dia a dia dos brasileiros. No último relatório executivo divulgado, o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) apontou que, em 2019, o Brasil atingiu 23,3% de taxa de empreendedorismo inicial, considerada a maior marca até agora. Os dados de 2020 ainda não foram divulgados, mas algumas prévias apontam que o Brasil deve atingir o maior patamar de novos empreendedores: aproximadamente 25% da população adulta estará envolvida na abertura de um novo negócio ou em empresas com até 3 anos e meio de atividade.

 

Conversamos com empresários do setor de tecnologia, confira dicas para empreender:

 

Visão de mercado

Jonatan da Costa empreende desde 2004, e hoje é CEO da empresa de tecnologia Área Central, que desenvolve uma plataforma para gestão de redes associativas e de centrais de negócios. O empreendedor é formado na área de tecnologia e sua jornada começou com a fundação e incubação da empresa Área Local, na UNIDAVI, em Rio do Sul (SC) no ano de 2004. O objetivo da primeira empresa era oferecer serviços digitais. Em dado momento, um cliente — uma rede associativa de supermercados — desafiou os empreendedores a criarem uma intranet para gestão de compras do grupo. A demanda gerou um produto — batizado de Área Central — e a rede associativa, o primeiro cliente do segmento atendido pela empresa. No ano de 2012 a plataforma de gestão de redes recebeu um investimento anjo e se tornou uma empresa à parte. Ele conta que para empreender ver além do óbvio é fundamental, saber qual é a necessidade do mercado antes mesmo dessa dificuldade ser mapeada faz parte da jornada empreendedora. “A plataforma da Área Central é única no segmento de gestão de redes associativas e centrais de negócios, pensar à frente é o que sempre nos moveu. Prever as demandas dos clientes, mesmo depois de ter um negócio estruturado, é fundamental para continuar inovando no mercado da tecnologia, que está em constante mudança”, diz Jonatan.

 

Liderança como sinônimo de humildade

“A humildade deve estar atrelada a reconhecer erros e acertos que ocorrem na criação de um produto, ou seja, os empreendedores precisam estar abertos a realizar a testagem dos serviços que irão oferecer e, caso não funcione, devem estar dispostos a seguir adiante, sempre experimentando. É dessa forma que enxergamos a importância da humildade na prática do dia a dia das startups”, afirma Robledo Ribeiro, CEO e Fundador da HostGator no Brasil. Formado em Ciências da Computação e recém-casado, o empresário que na época tinha apenas 23 anos decidiu tentar a vida nos Estados Unidos, em 2003. Chegando lá, foi através de um anúncio que encontrou a oportunidade de trabalhar na HostGator. Com visão mercadológica voltada à longo prazo, sempre compreendeu os problemas que os clientes relataram por bate-papo eletrônico ou telefone, “passei dois anos atendendo clientes diretamente, foi um período que coletei muita informação, conversava com 300 pessoas por dia, e foi assim que eu entendi de verdade as necessidades de cada cliente”, declara. Na HostGator era considerado o funcionário mais experiente, não demorou muito para ter a confiança da equipe de gestão. Em 2007, fundou a empresa no Brasil com o objetivo de entregar o melhor serviço possível e com um preço acessível. Em 2012, a HostGator — multinacional de hospedagem de sites e serviços para presença online — avança ainda mais e é vendida para o grupo Endurance, e Robledo passou a atuar nas operações corporativas da América Latina. O grupo ficou na gestão até meados de abril de 2021, quando foi comprado pela Clearlake Capital, grupo líder em investimentos focados em private equity, “a Clearlake trouxe a HostGator para o capital privado e isso nos permite avançar mais livremente para atingirmos nossos objetivos de crescimento”, afirma.

Resiliência, tecnologia disruptiva e visão de mercado

Demetrius Lima começou a empreender em 1996. Participou da criação de três empresas, sendo duas de learning, antes de fundar a Sábios em 2009, uma edtech que une educação, tecnologias imersivas e inteligência artificial para aumentar a performance de pessoas e organizações. Com mais de 20 anos de experiência em educação, viu uma necessidade de mercado dentro dos modelos tradicionais de ensino corporativo e desenvolveu uma metodologia e plataforma próprias de aprendizagem imersiva, que atualmente é usada por grandes empresas, como Raízen e Petrobras.

Formado em engenharia elétrica e mestre em inteligência artificial aplicada à educação, o CEO da Sábios diz que quem quer empreender precisa, primeiramente, ter muita resiliência e persistência, além de visão estratégica do negócio. “No início do projeto, principalmente falando em startup, é preciso transformar a ideia em MVP (produto viável mínimo), que possa ser testada e validada por clientes reais e, a partir daí, construir um roadmap de tecnologia com diferenciais disruptivos”, explica. Outro ponto importante é a visão de negócio, que precisa ser escalável e com receita recorrente, mas que gere valor ao cliente final. “Se todos esses vieses estiverem contemplados, a possibilidade de conseguir capital de risco para cumprir as fases de crescimento é altíssima”, complementa.

 

Como tirar a ideia do papel

Paula Lunardelli é diretora da Vertical de Construção Civil da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), além de ser co-fundadora e CEO da Prevision — construtech desenvolvedora de plataforma para planejamento e gestão eficiente de obras. Formada em engenharia civil pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e MBA pela FGV, o empreendedorismo surgiu na vida de Lunardelli em 2017. Neste ano, em conjunto com o engenheiro, Yan Bedin, e o cientista da computação, Thiago Senhorinha Rose, criou um Produto Viável Mínimo (MVP) para um software de planejamento e gestão de obras baseado em conceitos de Construção Enxuta.

Apesar de terem desenvolvido uma solução inovadora, ainda não era suficiente para tirar a ideia do papel e empreender. “Começamos meio às cegas, com um propósito muito claro, mas sem entender direito como funciona a criação de uma startup. Não demorou muito para percebermos que, naquele ritmo, não iríamos a lugar nenhum”, afirma a CEO. A entrada no MIDITEC, uma das 5 melhores incubadoras do mundo, foi essencial para a jornada.  Atualmente, a Prevision está presente em mais de 650 projetos no Brasil e um internacional. Além disso, é uma startup em fase de Scale Up e tem um crescimento acima de 15% ao mês, mesmo com receita interna. “Para chegarmos aqui, foi fundamental participar de capacitações sobre empreendedorismo em startups, frequentar eventos do ecossistema, buscar investimentos e seguir um planejamento eficiente pautado em metas realistas”, complementa Lunardelli.

 

Otimização tecnológica e vantagens competitivas de mercado

Empreendedores de sucesso têm em comum duas prerrogativas indispensáveis para o mercado: inteligência e inovação. Em um cenário onde a tecnologia influencia mudanças, uma empresa deve focar em como utilizá-la para garantir aos clientes um diferencial de mercado. É o que pensa Helmuth Hofstatter, CEO da LogComex, startup de dados e inteligência para o comércio exterior. De acordo com Hofstatter, soluções que utilizam recursos como Machine Learning e IA (Inteligência Artificial) para otimizar processos e reduzir riscos são diferenciais. “Lidamos todos os dias com grandes volumes de informação e devemos refinar os recursos tecnológicos disponíveis para atender às demandas e realmente inovar”, ressalta. Foi assim que a startup dobrou de tamanho mesmo durante a pandemia, faturando cerca de R$ 20 milhões em 2020 com sua ferramenta de logística internacional. “Focamos na redução de falhas humanas e na visualização panorâmica de dados para apoiar a tomada de decisões estratégicas de forma mais assertiva. Com isso, nossos clientes garantem ganhos de produtividade e eficiência, além da redução drástica do custo logístico”.

 

Invista em parcerias com instituições de ensino

A inovação é a premissa do setor de tecnologia e as parcerias com instituições de ensino para pesquisa e desenvolvimento de soluções são uma excelente forma de colocá-la em prática. Carlos Roberto De Rolt, fundador da  BRy Tecnologia, empresa que desenvolve soluções de identificação, formalização e registro digital e tem mais de 20 mil clientes em todo o Brasil, explica que essa busca constante por tecnologia de ponta que resolva os problemas dos clientes deve ser parte essencial de qualquer negócio desde o início. “Desde o começo, em 2001, a BRy investiu em parcerias com universidades para a criação de alta tecnologia brasileira e isso nos permitiu ser a empresa com a maior gama de soluções em segurança digital do país”, comenta. Um exemplo recente dos benefícios dessa parceria entre empresa e universidade é o desenvolvimento da tecnologia de diploma digital. Em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a BRy criou um sistema que reduz de 120 para 15 dias o tempo para emissão do certificado de conclusão de curso. “Trabalhar em conjunto com instituições de ensino ajuda a empresa justamente a desenvolver soluções para os problemas que as pessoas têm hoje, e isso é fundamental para manter um negócio vivo”, finaliza De Rolt.